sexta-feira, 6 de setembro de 2013

PESADELO

Bom dia, amor! - Abro os olhos já com aquele sorriso estampado virado pra mim e um aroma de café quentinho no ar.
Oi, meu amor! Estamos atrasados? - Me levantando dei nele um beijo. Sorri feliz ao enxergar o café da manhã na cama. — Que lindo, ! - Dei outro beijo e ele retribuiu.
Não tanto a ponto de não podermos tomar um café da manhã juntos! - Falou rindo.

Tomamos nosso café recheado de coisas gostosas que ele havia preparado pra nós. Frutas, pão, ovos, café, leite... Hum, delícia! Pê sabe o quão irritada acordo e por isso sempre trata de me fazer uma surpresa diferente. Vem fazendo isso há anos, desde que casamos.

Nos arrumamos e fomos para o trabalho, era um daqueles dias chatos de “põe e tira” roupas na Agência. É certo que sou apaixonada pela minha profissão, desfilar sempre foi meu grande amor, antes mesmo de conhecer o Pê, mas tinham dias de prova de roupas que eram simplesmente irritantes. Mas ok, saímos de casa juntos. Entrei no carro e avistei um olhar de longe, que me olhava estranho dando-me pequenos arrepios.

Lara? Amor? - Tinha viajado naquele olhar por uns 3 minutos sem perceber, mas Pedro tinha feito o favor de me trazer de volta a órbita. Entrei no carro e falei uma meia dúzia de palavras para distraí-lo, ainda incomodada com aquele olhar estranho que vagava pela minha cabeça. Ao final da rua, ainda podia vê-lo, não o conhecia. Na realidade, nunca vi essa pessoa na vida, mas ele me olhava tão intensamente que parecia estar ali com um propósito. E era exatamente estar de olho em mim e no Pê.

Chegando na agência, aquela correria antes mesmo de entrar. Dei um beijo em Pedro Te vejo no almoço? - ele fez que sim com a cabeça, retribuiu o beijo e partiu com o carro.

Aquela chatice de sempre: Põe, tira, põe e tira roupa. Experimenta, aperta, solta, tira e põe novamente. Ajusta aqui e acolá e minha cabeça pairava longe. Aquele olhar. Que olhar estranho. Olhar denso. Causava-me um verdadeiro medo. E olha... já eram quase 12h! Pedro já já chegaria pra almoçarmos e não podia me encontrar com aquela mesma cara de “susto” que estava pela manhã.

Fui ao banheiro, lavei bem o rosto e ao olhar pro espelho tive a impressão de que alguém me olhava escondido. Gelei. Sequei o rosto rapidamente e me virei de costas para pia. — Tem alguém aí? - Falei, com aquele olhar esquisito na minha cabeça. Abri a porta rapidamente e pisei em falso logo que saí, caindo no chão. Quando de repente vi um par de pés em minha frente. De homem. Suei frio. Ai, meu Deus! Fui me arrastando pra trás e gritei “Aaah! Socorro!” baixinho e os pés foram chegando mais próximos e quando se agachou, fechei os olhos tapando meu rosto com as mãos.

Ei, meu amor! O que houve? Sou eu, Lara! - Fui abrindo os dedos e pude ver Pedro agachado em minha frente, assustado com minha reação. Suspirei profundamente e o agarrei, dando um abraço tão forte que mal podia deixá-lo respirar. — O que houve, Lara? Você tá tremendo! - Ele disse, acariciando meu rosto. E agora, como explicaria pra ele? Ah amor, um homem estranho me olhou e bom, ele não fez nada sabe, mas pelo olhar achei que queria me matar. Não, nunca o vi na vida, mas...”, fala sério! Quem acreditaria nisso? No mínimo, me mandaria dormir alegando estar muito cansada e vendo “coisas”. Então pedi para não falarmos nisso e mesmo contra sua vontade, ele aceitou.

Enquanto almoçávamos, pude esquecer aquele homem de calça e blusa preta com uma jaqueta meio velha de couro. Pedro me levou de volta a agência e fui descansar na sala em que as modelos ficavam. Deitei e tentei mentalizar coisas boas. Coisas boas, coisas b...Barulho. Um barulho muito estranho! Levantei depressa e corri pra porta, girei a maçaneta e.. Fechada. Fe-cha-da! Respira, Lara. Respira! Resp..Aaahh!! — Alguém abre essa porta, pelo amor de Deus! - E então só vi uma mão na minha boca pressionando-a para que eu parasse de gritar. Arregalei meus olhos, atônita.
Xiiu.. Fica quieta! - Meu Deus, meu Deus! Era ele! Com aquela mesma jaqueta que cheirava a mofo, porém agora com óculos o que me impedia de ver seus olhos penetrantes e horríveis. Tentei manter a calma, mas era quase impossível. Ele foi tirando a mão da minha boca e palavras saltavam: O que você quer? Quem é você? O que faz aqui? Como entrou aqui?
Ei, ei, quietinha. Tá com medinho, Lara? - E deu uma risada maquiavélica. Céus, quem era ess.. Lara? Ele disse Lara?
Como sabe meu nome? Quem é você?? - E novamente riu, agora zombando.
Calada. Chega. Você só precisa saber de uma coisa: Não vai durar muito tempo. - E riu tirando os óculos, com aquele mesmo olhar horripilante daquela manhã. Poderiam passar séculos e eu ainda reconheceria esses olhos.

De repente, esse monstro tirou uma arma de dentro do bolso e ainda rindo, brincava Como seria se Lara.. Larita, a lindinha do “Pê”, é assim que você o chama né?, por acaso morresse? (Hahaha) – Ria sem parar. Ia tentando me arrastar o quanto conseguia pra trás, respirando ofegante, sem saber quem era aquele homem e o que ele queria. E como, como poderia conhecer tanto sobre mim?
Chegou a hora, coisa linda! - Esboçava um sorriso de satisfação enquanto apontava delicadamente sua arma para minha cabeça.

Sentia apenas lágrimas quentes rolando pelo meu rosto, fechei os olhos e desejei estar com Pê, ao menos uma última vez. Ouvi o barulho do gatilho, apertei as mãos contra o rosto e...

Bom dia, amor! - Abri os olhos rapidamente, girando-os para um lado e outro. Não enxergava jaqueta, nem agência e muito menos aqueles olhos. Via somente Pedro, nosso quarto e meu coração batendo tão rápido que mal conseguia respirar. E a graça de ter sido nada mais que um pesadelo. Terrível e demorado pesadelo.

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