— Bom
dia, amor! - Abro os olhos já com aquele sorriso estampado
virado pra mim e um aroma de café quentinho no ar.
— Oi,
meu amor! Estamos atrasados? - Me levantando dei
nele um beijo. Sorri feliz ao enxergar o café da manhã na cama. —
Que lindo, Pê! - Dei outro beijo e ele retribuiu.
— Não
tanto a ponto de não podermos tomar um
café da manhã juntos! - Falou
rindo.
Tomamos
nosso café recheado de coisas gostosas que ele havia preparado pra
nós. Frutas, pão, ovos, café, leite... Hum, delícia! Pê sabe o
quão irritada acordo e por isso sempre trata de me fazer uma
surpresa diferente. Vem fazendo isso há anos, desde que casamos.
Nos
arrumamos e fomos para o trabalho, era um daqueles dias chatos de
“põe e tira” roupas na
Agência. É certo que sou apaixonada pela minha profissão, desfilar
sempre foi meu grande amor, antes mesmo de conhecer o Pê, mas tinham
dias de prova de roupas que eram simplesmente irritantes. Mas ok,
saímos de casa juntos. Entrei no carro e avistei um olhar de longe,
que me olhava estranho dando-me pequenos arrepios.
— Lara?
Amor? - Tinha viajado naquele
olhar por uns 3 minutos
sem perceber, mas Pedro tinha feito o favor de me trazer de volta a
órbita. Entrei no carro e falei
uma meia dúzia de palavras para distraí-lo, ainda
incomodada com aquele olhar estranho que
vagava pela minha cabeça. Ao final da rua, ainda podia vê-lo, não
o conhecia. Na realidade, nunca vi essa pessoa na vida, mas ele me
olhava tão intensamente que parecia estar ali com um propósito. E
era exatamente estar de olho em mim e no Pê.
Chegando
na agência, aquela correria antes mesmo de entrar. Dei um beijo em
Pedro — Te vejo no almoço?
- ele fez que sim com a cabeça, retribuiu o beijo e partiu com o
carro.
Aquela
chatice de sempre: Põe, tira, põe e tira roupa. Experimenta,
aperta, solta, tira e põe novamente. Ajusta aqui e acolá e minha
cabeça pairava longe. Aquele
olhar. Que olhar
estranho. Olhar denso. Causava-me um verdadeiro medo. E olha... já
eram quase 12h! Pedro já já chegaria pra almoçarmos e não podia
me encontrar com aquela mesma cara de “susto” que estava pela
manhã.
Fui
ao banheiro, lavei bem o rosto e ao olhar pro espelho tive a
impressão de que alguém me olhava
escondido. Gelei. Sequei o
rosto rapidamente e me virei de costas para pia. — Tem
alguém aí? - Falei, com
aquele olhar esquisito na minha cabeça. Abri a porta rapidamente e
pisei em falso logo que saí, caindo no chão. Quando de repente vi
um par de pés em minha frente. De homem. Suei frio. Ai,
meu Deus! Fui me
arrastando pra trás e gritei “Aaah! Socorro!”
baixinho e
os pés foram chegando mais próximos e quando se agachou, fechei os
olhos tapando meu rosto com as mãos.
— Ei,
meu amor! O que houve? Sou eu, Lara!
- Fui abrindo os dedos e pude ver Pedro agachado em minha frente,
assustado com minha reação. Suspirei profundamente e o agarrei,
dando um abraço tão forte que mal podia deixá-lo respirar. —
O que houve, Lara? Você tá tremendo!
- Ele disse, acariciando meu rosto. E agora, como explicaria
pra ele? “Ah
amor, um homem estranho me olhou e bom, ele não fez nada sabe, mas
pelo olhar achei que queria me matar. Não, nunca o vi na vida,
mas...”, fala sério!
Quem acreditaria nisso? No mínimo, me mandaria dormir alegando estar
muito cansada e vendo “coisas”. Então
pedi para não falarmos nisso e mesmo contra sua vontade, ele
aceitou.
Enquanto
almoçávamos, pude esquecer aquele homem de calça e blusa preta com
uma jaqueta meio velha de couro. Pedro me levou de volta a agência e
fui descansar na sala em que as modelos ficavam. Deitei e tentei
mentalizar coisas boas. Coisas boas, coisas b...Barulho. Um barulho
muito estranho! Levantei depressa e corri pra porta, girei a maçaneta
e.. Fechada. Fe-cha-da! Respira, Lara. Respira! Resp..Aaahh!! —
Alguém abre essa porta, pelo amor de Deus! -
E então só vi uma mão na minha boca pressionando-a
para que eu parasse de gritar. Arregalei meus olhos, atônita.
— Xiiu..
Fica quieta! - Meu Deus, meu
Deus! Era ele! Com aquela mesma jaqueta que cheirava a mofo, porém
agora com óculos o que me impedia de ver seus olhos penetrantes e
horríveis. Tentei manter a calma, mas era quase impossível. Ele foi
tirando a mão da minha boca e palavras saltavam: — O
que você quer? Quem é você? O que faz aqui? Como entrou aqui?
— Ei,
ei, quietinha. Tá com medinho, Lara?
- E deu uma risada maquiavélica. Céus, quem era ess.. Lara? Ele
disse Lara?
— Como
sabe meu nome? Quem é você?? -
E novamente riu, agora zombando.
— Calada.
Chega. Você só precisa saber de uma coisa: Não vai durar muito
tempo. - E riu tirando os
óculos, com aquele mesmo olhar horripilante daquela manhã. Poderiam
passar séculos e eu ainda reconheceria esses olhos.
De repente, esse monstro tirou uma arma de dentro do bolso e ainda rindo, brincava — Como seria se Lara.. Larita, a lindinha do “Pê”, é assim que você o chama né?, por acaso morresse? (Hahaha) – Ria sem parar. Ia tentando me arrastar o quanto conseguia pra trás, respirando ofegante, sem saber quem era aquele homem e o que ele queria. E como, como poderia conhecer tanto sobre mim?
— Chegou
a hora, coisa linda! - Esboçava
um sorriso de satisfação enquanto apontava delicadamente sua arma
para minha cabeça.
Sentia
apenas lágrimas
quentes rolando pelo meu rosto, fechei os olhos e desejei estar com
Pê, ao menos uma última vez. Ouvi o barulho do gatilho, apertei as
mãos contra o rosto e...
— Bom
dia, amor! -
Abri
os olhos rapidamente, girando-os para um lado e outro. Não enxergava
jaqueta, nem agência e muito menos aqueles olhos. Via somente Pedro,
nosso quarto e meu coração batendo tão rápido que mal conseguia
respirar. E a graça de ter sido nada mais que um pesadelo. Terrível
e demorado pesadelo.
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