Gabriel
saiu do banho, automaticamente fechei os olhos e fingi dormir. Estava
magoada demais para uma discussão aquela hora, já bastava ter
aguentado ficar naquela festa até o final. Só queria dormir e
tentar esquecer essa noite nada satisfatória.
—
Sei
que está acordada, Letícia. -
Gemi por dentro, mas continuei intacta, sem dar um movimento. —
Você jura que vai
dormir sem falar comigo? E justamente por causa de uma festa e
pessoas sem importância alguma?
Não
aguentei, dei um riso falso. Abri os olhos e virada de lado podia
vê-lo vestido em sua boxer rosa e camiseta branca, secando o cabelo
molhado na toalha.
—
Letícia?
- A voz dele havia
passado de especulação para um pedido —
Lê, por favor.
—
Não
quero conversar.
—
Mas
meu amor, por favor, acredita em mim.
—
Gabriel,
por favor digo eu! Estou cansada, já chega por hoje.
Ele
deu um salto na cama, se deitou ao meu lado me abraçando pelas
costas e sussurrando no meu ouvido dizia: —
Amor, essa mulher
não tem noção! Você sempre soube disso. Eu nunca nem dei bola pra
ela. Por favor, amor, me ouve.
- Podia sentir o choro entalado em minha garganta, mas me mantinha
firme e quieta, sofrendo em silêncio.
—
A
única mulher que eu amo e sou loucamente apaixonado é você! É com
você que eu escolhi passar todos os dias da minha vida. Escolhi você
porque vê-la só umas horinhas não me bastavam, eu queria dormir e
acordar ao seu lado para
sempre.
Interrompi-o
com lágrimas transbordando meus olhos —
Essa mulher não me
respeita, não respeita minha presença. Age como se eu não
estivesse ali...
Chorava
que nem bebê. Estava extremamente magoada, com uma dor no
peito me
sentindo afrontada. Nunca liguei pra esse tipo de mulher que insiste
em querer atenção
de
pessoas
que ao menos ligam
para
sua presença, sempre fui segura quanto o amor de Gabe por mim.
Afinal, não
ficamos anos namorando e depois casamos à toa, sabíamos
perfeitamente aonde estávamos pisando. E mesmo depois de tantos
anos, nosso amor ainda era o mesmo daquele primeiro dia juntos.
Mas
certamente essa noite havia passado daquilo que eu poderia aguentar
sorrindo, abraçar Gabe como se fossem grandes e eternos amigos era
demais pra mim. Sorte a dela ele ter me segurado e ignorado-a,
deixando sem graça diante os outros convidados da festa, caso
contrário não responderia pelos meus atos. E Gabe, bom, ele sabia
disso melhor que ninguém.
—
Amor,
você é minha vida desde o dia que lhe dei nosso primeiro beijo. E
ela simplesmente não se conforma de eu ter escolhido você, de eu
amá-la mais que minha própria vida. Eu sinto muito se existem
pessoas como essa mulher que não respeitam um casal,
e acabam
nos incomodando.
Mas não esquece que na realidade, mais que tudo, ela não se
conforma das pessoas gostarem e a respeitarem tanto e com ela ao
menos falarem.
-
Ele falava enquanto me acolhia em seu colo e acariciava
meu
rosto. — Lê,
minha princesa, é você quem eu amo. E ninguém nunca vai mudar
isso.
Me
deu um beijo relembrando o amor que sentia por mim e me fazendo
lembrar que sou eu a companheira de todos os dias dele, sejam bons ou
ruins. Sou eu quem estou ao seu lado quando chega cheio de novidades
do trabalho ou com lágrimas nos olhos por algo ter dado errado. Sou
eu! E mulher nenhuma poderia competir com o fato dele me amar
imensamente e eu a ele, como nunca amamos outros em nossas vidas.
E
lá ficamos, deitados, apreciando a presença um do outro. Por mais
que doesse brigar, nada superava a deliciosa sensação da
reconciliação.