terça-feira, 3 de setembro de 2019

FOGARÉU

acendi um fósforo
o álcool já estava lá por si só
começou com uma faísca
como quem não daria em nada
e do nada

labaredas
tão enormes que sequer conseguia enxergar
o que era eu
e o que era
ela

eu via as chamas
que se enlaçavam num monte de coisa que ali estava

as cortinas pegaram fogo primeiro
os livros aos poucos deixavam de ter
tornavam-se ser
eram só memória
memórias essas que a gente nem queria mais
eram parte do que havíamos sido
mas não de quem somos

o fogo que antes estava na sala
agora tomava conta dos quartos
rasteiro
e crescia
CRÊscia
crescIA
tomando conta de tudo

aos poucos o banheiro
antes tão frio
agora era só quentura
a água já não era capaz de apagar
não havia água suficiente
pra sanar tamanho
fogaréu

a sala
os quartos
o banheiro
a cozinha
até a escrivaninha
tudo

tudo pegou fogo

era ardência
fervor
brasa
chama
lume

é ela
o álcool
e eu
o fósforo

que delícia
de fogo
fecho os olhos juntando meu dedo no dela
naqueles pedidos bobos mas cheios de vontade
pedindo a seja lá quem for
que esse fogo
nunca
se apague.

3 de setembro de 2019.