segunda-feira, 22 de junho de 2015

NO ÔNIBUS

Lá estava eu, sentada no banco do ônibus enquanto viajava pra longe com a música que destrinchava meus tímpanos de tão alta. Meus pensamentos se anexavam a batida da música. Cachorro, faculdade - parada rápida pra tocar a bateria imaginária junto ao som de Led Zeppelin -, trabalho, provas, curso de inglês na quarta e o chopp com a galera no sábado.

Em meio a lista flutuante e imaginária que criava, olhava de rabo de olho para quem entrava ou saía do ônibus, não por medo, apenas para saber se algum "vovô" ou "doninha" entrariam e precisariam de meu assento.

Até que entre uma dessas rápidas olhadas, voltei-me rapidamente a pessoa em que avistei. Sorri ao vê-lo sorrindo feliz para um bebê que estava no colo de sua mãe e foi isso que me chamou atenção no mesmo. Ele sentiu o olhar e virou-se pra mim rapidamente, fazendo-me não ter tempo de voltar meu olhar. Então encarei. Sem graça, me virei. Mas continuava incomodada, era como um imã que fazia voltar meus olhos à ele e sutilmente ele voltava os seus à mim.

Comecei a prestar mais atenção nele. De terno, claramente um executivo -o que me fazia perguntar a mim mesma o por quê de estar andando em transporte público tão elegante daquela forma-, com um sorriso belíssimo que transparecia ingenuidade apesar da idade. E que idade! Era mais velho. E isso não me incomodava nem um pouco, pelo contrário, até me instigava.

E fiquei ali, imaginando como seria se ao invés de em pé ele sentasse no banco ao lado e puxasse papo: será que era um cara tão interessante quanto aparentava de longe?

E no meio de todos esses pensamentos: - trriiiiiimm! - alguém tocou a campainha do ônibus. Era ele. Antes de descer, virou-se em minha direção e me encarou como quem dizia "até logo", retribuí com um sorriso.

Até hoje não sei o tom de sua voz, ou seu nome, ou o que faz da vida... Sei apenas aquilo que minha imaginação criou. A única certeza que carrego é que gosta de crianças e que é dono de um sorriso hipnotizante. 

Até prefiro esse desfecho. Afinal, melhor que ele permaneça em minha memória como alguém que em pouco menos de 20 minutos me fez lembrá-lo por anos ao invés de alguém que pude ter durante anos e queria que fosse apenas por 20 minutos.