quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

UMA CARTA ENVIADA TARDE DEMAIS

Oi, sou eu. Sei que é tarde, mas eu vim. Sou eu...

Já escrevi tantas outras cartas, mais precisamente, 364. Uma pra cada dia do ano. Estão todas empacotadas num canto do meu quarto, não tive coragem de enviar uma se quer. Ao lado estão mais duas caixas, uma cheia de presentes que comprei pra lhe dar, cada um com significado diferente e todos me remetem você. E a outra, bom, a outra caixa é repleta de coisas nossas: Papéis de bombons com frases românticas, fotos nossas, entradas de cinema que fomos juntos - e os que fui sozinha, pensando em você. Ursinhos com seu perfume, presentes que me deu, bilhetes de "eu te amo" que você espalhava pela casa... 

Desde que fomos cada um pra um lado, podia ainda te sentir aqui, como se fôssemos um. Como se nunca deixássemos de ser um.

Hoje, quando tomei coragem suficiente pra te escrever, era tarde demais. Tarde demais pra dizer "Volta pra mim, temos tanto pra viver". Tarde demais pra juntar todas essas cartas e presentes e bater na porta da sua casa, dizendo "É tudo pra você, é tudo de nós dois". Tarde pra dizer que nossa história nunca é tarde pra recomeçar. 

Mas foi tarde. Tarde demais!

E sentada em nosso banco preferido daquela pracinha, me pergunto: E agora? O que faço com tudo isso? O que faço com aquelas caixas, com as cartas, com os presentes? O que faço com toda nossa história? O que eu faço? 

E a única coisa em que consigo pensar é no quanto demorei pra tomar coragem. O quanto foi preciso pra que enfim levantasse daquela cadeira e deixasse o papel de lado.

E hoje você deixa de ser meu companheiro em terra, pra ser meu anjo no Céu. E assim, aqui no seu caixão, ponho a última carta que te escrevo. Eu vim como te prometi há anos atrás, agora você sabe, eu vim.

Me desculpe por ter sido tarde demais.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

VIDA QUE GERA VIDA

Acordei no meio da noite com Giovana tendo a maior das contrações nesses 9 meses. Fiquei tão nervoso que mal conseguia pensar no que fazer, respirei fundo e... “Aaaah, vai nascer!”. Arregalei os olhos quando ela gritou isso acenando pra que eu pegasse a mala que já estava arrumada há mais de 2 meses – por sinal, não faço ideia do por quê mulheres fazem isso. Mas tudo bem, catei tudo e coloquei no carro, inclusive minha amada esposinha linda e pronta pra pôr mais uma vida no mundo.

Chegando no hospital, corri gritando qualquer pessoa que pudesse nos ajudar. Logo apareceram enfermeiras que puseram Giovana sentada numa cadeira de rodas e nos direcionaram para um quarto. Respirava fundo e falava pra Gio fazer o mesmo.

Amor, vai dar tudo certo. Ok? Daqui uns momentos nossa pequena estará em nossos braços. - As palavras cuspiam pra fora da minha boca, meu nervosismo era evidente.
Marcos, meu amor, calma! - Ela tentava me acalmar, rindo. Dá pra acreditar? Ela, prestes a dar luz tendo que me acalmar.
Eu tô bem, minha linda! Tô aqui com você, está bem? - Segurei firme em sua mão, entrelaçando nossos dedos.

Vamos levá-la pra sala de parto em 5 minutos. - Disse uma enfermeira e saiu do quarto.
Marcos, liga para nossos pais, tá?
Já liguei, amor. Tô só esperando eles chegarem. - Sorria enquanto acariciava seu rosto. Por dentro meu coração parecia um tambor e sentia meu rosto queimar de tanto nervoso.

Levaram Giovana pra sala de parto e eu fui conferir se nossos parentes haviam chegado. Dei graças a Deus quando vi meu pai em pé, sorridente e feliz por saber que sua netinha logo falaria “vovô” por aí. Corri em direção a ele.
Pai, não sei o que fazer. A Giovana já foi pra sala de parto, tô com medo. Não sei como agir, não quero passar isso pra...
Ei, filho – Ele dava tapinhas em meus ombros – não é hora de pensar, está bem? Sua esposa está lá dentro ansiando por sua presença ao lado dela, independente de como estiver. Ela precisa de você nesse momento e daqui uns minutos sua filha, SUA FILHA, estará no mundo. Tem certeza de que não quer ser o primeiro a vê-la? - Sorri aliviado. Meu pai sempre foi assim, me ajudava a mudar de menino para homem.

Corri pra sala 208, onde faziam os últimos ajustes pra começar o parto. Fui para o lado de Giovana: Meu amor, eu tô aqui do seu lado.. E da nossa filha. - Dei um beijo em sua testa e ela retribuiu com um sorriso.

Logo em seguida podia ouvir o chorinho da nossa pequena. A médica pôs nossa menina em meu colo e me agachei ao lado de Giovana, sentia que agora éramos completos. Sorríamos com lágrimas nos olhos. Era tão pequenina, tão ingênua, tão pura... Por isso demos o nome de Clara. Clara como a luz do dia.

Olhando pra Clara eu pude entender o que é verdadeiramente o amor! Deus junta um casal destinado a viver como um para sempre. E este amor é tão grande que não caberia em fotos, músicas ou cartas. Por isso a maior prova de que existe é o filho, quando se olha pra ele um consegue enxergar o outro. E novamente se encontram, mesmo que estejam separados.

É o amor de um casal que gera o maior amor de suas vidas: Seus filhos! Mais que herança de seus bens, são a herança de tudo aquilo que são.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

AMIGA DE NEGRITO

Assim resolvi chamar minha amiga mais próxima, aquela que sempre esteve ao meu lado até quando não estive ao dela. Garanto que vocês também já tiveram uma amiga assim, em negrito. É daquele tipo de amiga que te liga até quando você já perdeu o número dela dentre seus papéis e bagunça; que te manda e-mail mesmo que os outros 364 não tenham sido respondidos durante todo o ano; que se importa em saber se você está estudando direitinho ou se vai perguntar pra sua diretora, se for preciso. Aquela amiga que sente exatamente o que você sente; que te liga na hora que você mais precisa e diz “O que houve? Sei que não está bem” te deixando totalmente sem palavras pela rapidez em reconhecer seu coração.

Amigas assim certamente não são tão fáceis de encontrar quanto se pensa. Sempre haverá diversas amigas, até mesmo em itálico, mas em negrito posso lhe garantir que terá de procurar bastante. Ou somente esperar.

Amiga em negrito, ou amiga de negrito é aquela que conquista não só seu coração, mas o coração da sua família e até mesmo do seu namorado. Que sabe o nome de todas as pessoas importantes na sua vida e que faz careta quando você fala sobre outra amiga especial. Que diz “vai lá com ela” quando na realidade está morrendo de ciúmes querendo que fique.

É verdade que têm namorados que sentem ciúmes das amigas de negrito, seja por elas saberem tanto sobre você e quererem de alguma forma mostrar “conheço tanto ou até mais que você” ou pelo simples fato de terem que dividi-la com toda essa negritude que ambas tem uma com a outra. Já ouvi dizer que amizade entre mulheres é como um “casamento” e acho um pouco exagerado. Com toda certeza amiga em negrito é amiga fiel e precisa tanto de você quanto dela, mas o tempo para cada uma é necessário. Fique tranquila, ser amiga de negrito é entender que você tem um namorado, faculdade, trabalho ou até mesmo família para cuidar e precisa desse tempo só ou até sumir às vezes. Mas que ao telefonar querendo sumir de toda essa realidade, ela somente dirá “Estava esperando sua ligação, pode vir.”.

Pode ser clichê, mas a realidade é que uma amiga em negrito sempre irá lhe dizer a verdade e não aquilo que você quer escutar. Ela dirá o que você precisa ouvir, seja bom ou ruim. Se você tem como amiga que concorda com tudo que faz e diz, isso é uma parceira de crime, não uma amiga de negrito. Vocês duas se xingam entre quatro paredes, mas o mundo nunca poderá falar mal de sua grande amiga em negrito.

É legal saber que tem alguém com você o tempo inteiro em que precisar. Que vai te ouvir, gritar e rir com você; pegar um ônibus e sair em pleno domingo à noite só para tomar um sorvete e reclamar do fim de semana ruim que tiveram ou da semana que já vai começar. Ligar numa terça-feira de madrugada só pra contar a fofoca do dia e mandar sms o dia inteirinho rindo de como a vida te prega peças. Mas também compreender que sua amiga tem um espaço que é só dela e nem mesmo você, com toda essa negritude poderá ultrapassar. Ser amiga de negrito é isso, estar e não estar. Às vezes o importante não é falar e falar, tagarelar o tempo inteiro. Tem dias que ela só precisa da presença, do sorriso e do silêncio.

O nome disso tudo é ser melhor amiga. Assim, desse jeitinho, em negrito!

Esse texto é inspirado em uma grande
e eterna amiga, SF. Obrigada por tudo sempre!

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

RECONCILIAÇÃO

Gabriel saiu do banho, automaticamente fechei os olhos e fingi dormir. Estava magoada demais para uma discussão aquela hora, já bastava ter aguentado ficar naquela festa até o final. Só queria dormir e tentar esquecer essa noite nada satisfatória.

Sei que está acordada, Letícia. - Gemi por dentro, mas continuei intacta, sem dar um movimento. Você jura que vai dormir sem falar comigo? E justamente por causa de uma festa e pessoas sem importância alguma?

Não aguentei, dei um riso falso. Abri os olhos e virada de lado podia vê-lo vestido em sua boxer rosa e camiseta branca, secando o cabelo molhado na toalha.

Letícia? - A voz dele havia passado de especulação para um pedido Lê, por favor.
Não quero conversar.
Mas meu amor, por favor, acredita em mim.
Gabriel, por favor digo eu! Estou cansada, já chega por hoje.

Ele deu um salto na cama, se deitou ao meu lado me abraçando pelas costas e sussurrando no meu ouvido dizia: Amor, essa mulher não tem noção! Você sempre soube disso. Eu nunca nem dei bola pra ela. Por favor, amor, me ouve. - Podia sentir o choro entalado em minha garganta, mas me mantinha firme e quieta, sofrendo em silêncio.
A única mulher que eu amo e sou loucamente apaixonado é você! É com você que eu escolhi passar todos os dias da minha vida. Escolhi você porque vê-la só umas horinhas não me bastavam, eu queria dormir e acordar ao seu lado para sempre.

Interrompi-o com lágrimas transbordando meus olhos Essa mulher não me respeita, não respeita minha presença. Age como se eu não estivesse ali...

Chorava que nem bebê. Estava extremamente magoada, com uma dor no peito me sentindo afrontada. Nunca liguei pra esse tipo de mulher que insiste em querer atenção de pessoas que ao menos ligam para sua presença, sempre fui segura quanto o amor de Gabe por mim. Afinal, não ficamos anos namorando e depois casamos à toa, sabíamos perfeitamente aonde estávamos pisando. E mesmo depois de tantos anos, nosso amor ainda era o mesmo daquele primeiro dia juntos.

Mas certamente essa noite havia passado daquilo que eu poderia aguentar sorrindo, abraçar Gabe como se fossem grandes e eternos amigos era demais pra mim. Sorte a dela ele ter me segurado e ignorado-a, deixando sem graça diante os outros convidados da festa, caso contrário não responderia pelos meus atos. E Gabe, bom, ele sabia disso melhor que ninguém.

Amor, você é minha vida desde o dia que lhe dei nosso primeiro beijo. E ela simplesmente não se conforma de eu ter escolhido você, de eu amá-la mais que minha própria vida. Eu sinto muito se existem pessoas como essa mulher que não respeitam um casal, e acabam nos incomodando. Mas não esquece que na realidade, mais que tudo, ela não se conforma das pessoas gostarem e a respeitarem tanto e com ela ao menos falarem. - Ele falava enquanto me acolhia em seu colo e acariciava meu rosto. — Lê, minha princesa, é você quem eu amo. E ninguém nunca vai mudar isso.

Me deu um beijo relembrando o amor que sentia por mim e me fazendo lembrar que sou eu a companheira de todos os dias dele, sejam bons ou ruins. Sou eu quem estou ao seu lado quando chega cheio de novidades do trabalho ou com lágrimas nos olhos por algo ter dado errado. Sou eu! E mulher nenhuma poderia competir com o fato dele me amar imensamente e eu a ele, como nunca amamos outros em nossas vidas.

E lá ficamos, deitados, apreciando a presença um do outro. Por mais que doesse brigar, nada superava a deliciosa sensação da reconciliação.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

TRAIÇÃO

Alô.
Oi, Cela. Só tô ligando pra dizer que não vai dar pra te ver hoje.
Ué, por quê?
Ahh... Uns trabalhos aqui, amor. Mais tarde te ligo.
Hum... Entendo..
Te amo, minha gatinha. Fica triste não. Beijo!

Faziam semanas que Marcela e João não faziam um programa de casal, e aquilo já estava incomodando Marcela. Havia virado rotina eles marcarem algo e em cima da hora, João inventar outro compromisso.

Desde que João assumiu a direção da empresa, Marcela sabia que ter seu namorado só pra si seria impossível e mesmo ficando chateada, aceitava numa boa por ele. Mas João definitivamente estava passando dos limites no quesito “não dar atenção a própria”.

Lu, tô indo encontrar o João. Não esquece de levar a chave quando sair – Gritou pra sua melhor amiga e companheira de apê, Luana.
Mas você não disse que não ia mais? - Luana gritou de dentro do banho.
Vou fazer uma surpresa pra ele. João tem trabalhado muito ultimamente e como sou amiga do porteiro, pego a chave e faço um jantarzinho pra nós.
Pra gente você não faz né.
Ai Lu, sua ciumenta! Depois faço quantos quiser, tá? Agora vou indo lá amiga, até mais tarde. - E bateu a porta, saindo de casa em direção ao elevador.

No caminho para casa de João, Marcela passou no mercado e comprou umas coisinhas gostosas. Foi pensando em cada detalhe do que poderia fazer pro seu jantar romântico com seu amado.

Oi, seu Beto. João já chegou?
Não senhora, dona Marcela. Vai subir?
Vou sim. Não diga a ele que estou aqui, ok? É uma surpresa!
Ok, senhora. Boa noite! - Ele sorriu docemente.

Marcela arrumou cada pedaço da casa, encheu de pétalas o quarto e velas a mesa. O aroma da lasanha que só ela sabia fazer tomava conta do lugar. Agora era só esperar João chegar.

Marcela ouviu barulho de passos, correu pra desligar as luzes e ficar com controle do som em mãos. Se escondeu e esperou João abrir a porta. Estranhamente ouviu mais que dois pés andando e quando pôs a cabeça para fora, avistou uma mulher junto dele. Não acreditou no que estava vendo, João beijando outra mulher.

Então é esse seu trabalhinho, João? - Saiu do esconderijo. Olhava pra João incrédula e ele a fitava sem saber o que fazer.
O que você tá fazendo aqui Marc..? - E quando olhou em volta, se deu conta de que era uma surpresa pra ele.
Boa pergunta, João! - Pegou sua bolsa e parou em frente a porta Também não sei o que vim fazer aqui. Mas uma coisa tenho certeza: Nunca mais voltarei. - Saiu escada abaixo, ignorando o fato de que sem elevador teria que descer 8 remessas de andares. Só queria soltar aquela energia de fúria pra fora de si.

Calma, Marcela! Calma! - João deixou a garota que estava com ele e correu atrás dela. Espera, Celinha!

Em vão. Marcela o chutou tão profundamente no joelho que não conseguiria tão cedo correr atrás dela. Correu as últimas escadas que faltavam e entrou em seu carro, vendo o vulto de João atrás, na rua. Foi pra casa e chorou horrores, deitou em sua cama e dormiu. Que noite!

No dia seguinte, João a esperava em sua sala. Luana como não sabia de nada, o deixou entrar. Marcela a fuzilou com os olhos.

O que está fazendo aqui?
Você precisa me ouvir...
Presta bastante atenção, João! Eu estive sempre ao seu lado e você nunca deu valor. Vai embora e não volte. E quando me ver na rua, mude de calçada... Para o seu bem!

Meses depois João ainda tentava contato. Mais que nunca Marcela se encontrava plena, feliz e realizada. Estava linda, cuidando de si e dessa mania de se importar demais com pessoas que não faziam o mesmo por ela. Ligou o botão do “F”: Fui ser feliz e não volto.

O pior que João poderia esperar não era a ira de Marcela, muito menos vê-la com outro, mas sim a forma com que ela aprendeu a ignorá-lo profundamente. Poderia chorar em casa sentindo sua falta, mas isso era entre ela e seu travesseiro. As pessoas a viam sorrindo, e isso iria ser sempre assim.

O maior ensinamento que tirou disso foi que quando começar a ser colocada em segundo plano sempre, é hora de tirar essa pessoa de seus planos. E o mais importante: Acontecer coisas ruins é inevitável, prosseguir com elas é opcional.

NOVIDADE: Oi gente! Com a repercussão que o Blog está tendo, resolvi criar uma página
para que pudéssemos ter um contato maior, o que acham? Cliquem aqui e curtam.
Espero que gostem! : ) Beijos.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

O PEDIDO

Que bom que você veio! - Podia ver seu sorriso estampado em meio ao nervosismo.
Porque não viria, amor? - Acariciava seu rosto enquanto sorria.
Eu te chamei aqui porque precisamos conversar, Drica.
O que houve, Luís? - Perguntava olhando fixamente em seus olhos. Estava tenso.
Calma! Não é nada demais. Quer dizer, é. Mas não é ruim. - Falava tropeçando nas próprias palavras. Foi inevitável um risinho.
Luís, ei. Calma você. O que houve, amor? Você me tira do trabalho em meio expediente, diz que tem algo muitíssimo importante pra falar comigo e agora fica nesse gaguejo todo? Seja direto. O que tá acontecendo?

Ele pôs os braços em volta da minha cintura e eu amoleci na hora.
Você está certa de que deseja ficar comigo? Tipo, esse ficar de ficar pra sempre? - Não consegui reagir a pergunta. Será que ele estava falando de...? Sim ou não, Drica?
Claro, amor. Tenho certeza sim.
Nós estamos namorando há quase 8 anos e sei que seu sonho sempre foi namorar 10 anos, noivar e casar em seguida. Mas eu estava pensando e me perguntei o porquê de ainda estarmos apenas namorando. O porquê de não começarmos logo nossa família com nossos dois pequenos. Ou quatro. E não obtive resposta. Já estamos bem financeiramente, com emprego fixo e apartamento. O que estamos esperando de verdade, Drica? Porque eu não tenho mais desculpas pra dar a mim mesmo e não pedi-la em casamento. – Abaixou-se de joelhos ali mesmo, em nossa lanchonete preferida com Klaus e Lídia - nossos garçons também preferidos - assistindo nem tão bobos quanto eu estava.

Adriana, quer casar comigo? - Mal conseguia responder, minha garganta se fechou e foi automático as lágrimas percorrerem meu rosto.
Mas... Cla-claro que aceito, meu amor! - Agarrei-o imensamente feliz. Sorria extremamente boba com tudo que estava acontecendo.

Luís me abraçou tão forte e com uma alegria que transbordava em seus olhos. Poucas vezes o vi tão radiante dessa forma. Este dia certamente ficaria na memória, podermos enfim decidir ficar juntos por toda a vida é um sentimento inigualável. Nem mesmo todos os problemas que passamos poderiam corromper isto.

Fomos pra casa. Com um anel no dedo, muitos sonhos pra realizar e nada concreto. Apenas a vontade de nos unir e sermos um só pra sempre! Ou seja, na realidade, tínhamos tudo.

domingo, 15 de setembro de 2013

CONHECENDO A SOGRA

Acordei já pensando em como seria aquele dia terrível. Sou tão desengonçada com tudo, conhecer a mãe do Paulinho não seria nada fácil. Pensava em coisas legais pra dizer como “Ah, que casa bonita!” ou “Que cabelo bonito o seu senh..”, caramba! Como devo chamá-la? Senhora, dona Lucir ou só Lucir?

 Oi. Oi amor! - Tentei mostrar empolgação.
— Oi minha linda! E aí, tá tudo certo pra hoje?
— Ahh.. claro, amor! - Ria nervosamente.
— Está tudo bem mesmo, Rê? - Ele perguntava preocupado.
— Sim, sim. Pode vir me buscar em 10 minutos, já tô quase pronta. Beijos! - e desliguei correndo antes que desconfiasse de mais alguma coisa. Não dava mais pra adiar essa ida à casa da amada sogrinha.

Paulinho veio me buscar, entrei no carro dei um beijo nele e liguei o som. Tentei demonstrar o máximo de normalidade possível, acho que ele acreditou depois do quinto “Tá tudo ótimo, amor”.

Chegando lá bati com joelho no portão da casa. Só conseguia pensar no quanto aquilo doía e o quão lerda eu poderia ser. Entrei e fingi sorrir feliz. Uma moça com roupa de faxina abriu a porta e eu dei olá e sorri. Me virei pro Paulinho e constatei: Você não disse que tinha uma moça que cuidava da casa. - Ele fez uma cara de desentendido e deu um sorriso amarelo pra faxineira e me respondeu: Não temos, amor. Essa é minha mãe. - Gelei. Comecei bem. Bem mal.

Se a mãe dele tivesse me expulsado naquela hora teria entendido, porque meu nervosismo foi tanto que fui andando pra trás vermelha de vergonha e “Miiiiiiiiiaaaaaaau”, pisei no gato da velha. Ai, caramba!

— Ai, me desculpa senh..Dona Lucir. Me desculpa mesmo, não o vi ali. - Se eu saísse mancando dali não me impressionaria, porque ela me fuzilava com os olhos.
— ELA. Não viu ELA ali. - Dava ênfase mostrando que era fêmea.

Paulinho me puxou pra sala, perguntou se estava tudo bem e pediu que eu ficasse sentada que nada mais poderia acontecer. Ele estava tenso, não tanto quanto eu. Mas estava. Que dia desastroso! Só lembrava de falar algo especial, como o cabelo. Mulher sempre gosta que elogie seu cabelo. Ufa, ainda havia esperanças!

— Bonito seu cabelo, dona Lucir. É que cor? Amora? - Ela na mesma hora fechou a cara pra mim. O que eu poderia ter falado de errado dessa vez?
— A cabeleireira deixou cair a tinta errada no meu cabelo, Renata.
— Ah... sinto muito. Mas... Combinou com a senhora. Há males que vem para o bem, né? - Tentei melhorar fazendo uma piadinha.

Paulinho viu a ira da mãe em seus olhos e resolveu mudar o caminho da conversa.
— Então mãe, conta pra Rê o que você gosta de fazer.
— Cozinhar. Gosto de cozinhar. Sabe cozinhar, Renata?
— Brigadeiro conta? - Ria achando super engraçado e ela não retribuiu nem com um sorriso de canto  Foi uma piada, dona Lucir.
— Não teve graça. - Nossa, que velha sem humor! Fuzilei o Paulinho enquanto lembrava dele falando “Mamãe é um doce, não se preocupe amor”. Argh.

E lá vem aquele gato novamente. Começa a dançar em volta das minhas pernas, se roçando. Eu não tinha reação, nunca gostei de gato. Meu negócio é cachorro.
— Não vai fazer carinho nela, Renata? - Olhei incrédula.
— Ah, claro dona Lucir! Claro. - Paulinho que se prepare. Vou socá-lo.
— Vem cá, gatinha. Gatin.. AH! - A gata me deu um arranhão.
— Lurdinha, quê isso filha? Não, Lurdinha. - É sério que ela trata a gata desse jeito? Chega por hoje.
— Então é isso dona Lucir, tenho que ir.
— Mas já? Nem comeu o bolo que preparei.
— Deixa pra próxima. - Só queria sair de lá enquanto estava ralada, mas viva.

Quando já estava por sair, ouvi-a dizendo pro Paulinho:  Que garotinha que você foi arranjar hein Paulo Fernando..
Não aguentei. Dei meia volta e fui até ela.
— Olha, dona Lucir, pode ter certeza que hoje também não foi um dos meus melhores dias. Perdoe qualquer transtorno. Só quero que saiba que mesmo sendo desengonçada e não conseguindo fazê-la rir nem por um segundo, quero fazer seu filho feliz pra sempre. E independente dos problemas de hoje, agradeço a Deus por você. Porque sua vida gerou a minha, que é o Paulinho. - Sorri, triste por ter dado tudo errado, porém sabendo que havia tentado.

Na semana seguinte dona Lucir me ligou chamando pra comer aquele pedaço de bolo. Quando cheguei lá avistei o portão antes dele me avistar. Lurdinha, a gata, estava trancada no quarto e conversamos tranquilamente. Até que a velhinha é gente boa. E ai de quem disser que não.

Recadinho: Ao escrever esse conto, fiquei imaginando as diversas histórias que vocês tem pra contar. Que tal escrever nos comentários abaixo como foi conhecer a sogrona ou sogrão? Aguardo ansiosa, beijos!

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

SEU CHEIRO

Am.. Ops! Desculpa. - Me virei dando as costas aquele estranho, com a vergonha estampada no meu rosto vermelho. Podia jurar que era Fred. Aquele cheiro é tão...Tão real, tão dele. Podia ouvir meu próprio suspiro ao pensar e lembrar daquele aroma que só ele poderia ter.

Sorria sozinha em meio à rua repleta de pessoas andando pra lá e pra cá, esbarrando umas nas outras. Nem ligava. Pedia “desculpe” como se fosse eu quem esbarrasse nelas, enquanto na verdade era o contrário que acontecia.

E em meio a toda essa felicidade, resolvi fazer uma surpresa a Fred. Apareci de supetão em sua casa, quando percebi já estava tocando a campainha.

*Dim dom*

Alice? - Ele se surpreendeu com a visita.
Oi, amor! Bateu uma saudadezinha de você...
O que houve com seu celular? - Ria zombando do meu vício.
A tecnologia ainda não chegou no nível de poder sentir o cheiro do seu perfume pelo whatsapp. - Fred sorri feliz e logo trata de me afagar com beijos e aquele abraço de urso que só ele sabe me dar. E claro, repleto de um perfume que não se compara, nem mesmo com aquele estranho da rua.


O mais engraçado de tudo é que Fred não tem apenas o cheiro do perfume humor que ele usa, tem também o cheiro de seu corpo e de sua casa. E se eu sentir qualquer um desses aromas seja aonde for, automaticamente me remetem a uma só pessoa: Ele!

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

PESADELO

Bom dia, amor! - Abro os olhos já com aquele sorriso estampado virado pra mim e um aroma de café quentinho no ar.
Oi, meu amor! Estamos atrasados? - Me levantando dei nele um beijo. Sorri feliz ao enxergar o café da manhã na cama. — Que lindo, ! - Dei outro beijo e ele retribuiu.
Não tanto a ponto de não podermos tomar um café da manhã juntos! - Falou rindo.

Tomamos nosso café recheado de coisas gostosas que ele havia preparado pra nós. Frutas, pão, ovos, café, leite... Hum, delícia! Pê sabe o quão irritada acordo e por isso sempre trata de me fazer uma surpresa diferente. Vem fazendo isso há anos, desde que casamos.

Nos arrumamos e fomos para o trabalho, era um daqueles dias chatos de “põe e tira” roupas na Agência. É certo que sou apaixonada pela minha profissão, desfilar sempre foi meu grande amor, antes mesmo de conhecer o Pê, mas tinham dias de prova de roupas que eram simplesmente irritantes. Mas ok, saímos de casa juntos. Entrei no carro e avistei um olhar de longe, que me olhava estranho dando-me pequenos arrepios.

Lara? Amor? - Tinha viajado naquele olhar por uns 3 minutos sem perceber, mas Pedro tinha feito o favor de me trazer de volta a órbita. Entrei no carro e falei uma meia dúzia de palavras para distraí-lo, ainda incomodada com aquele olhar estranho que vagava pela minha cabeça. Ao final da rua, ainda podia vê-lo, não o conhecia. Na realidade, nunca vi essa pessoa na vida, mas ele me olhava tão intensamente que parecia estar ali com um propósito. E era exatamente estar de olho em mim e no Pê.

Chegando na agência, aquela correria antes mesmo de entrar. Dei um beijo em Pedro Te vejo no almoço? - ele fez que sim com a cabeça, retribuiu o beijo e partiu com o carro.

Aquela chatice de sempre: Põe, tira, põe e tira roupa. Experimenta, aperta, solta, tira e põe novamente. Ajusta aqui e acolá e minha cabeça pairava longe. Aquele olhar. Que olhar estranho. Olhar denso. Causava-me um verdadeiro medo. E olha... já eram quase 12h! Pedro já já chegaria pra almoçarmos e não podia me encontrar com aquela mesma cara de “susto” que estava pela manhã.

Fui ao banheiro, lavei bem o rosto e ao olhar pro espelho tive a impressão de que alguém me olhava escondido. Gelei. Sequei o rosto rapidamente e me virei de costas para pia. — Tem alguém aí? - Falei, com aquele olhar esquisito na minha cabeça. Abri a porta rapidamente e pisei em falso logo que saí, caindo no chão. Quando de repente vi um par de pés em minha frente. De homem. Suei frio. Ai, meu Deus! Fui me arrastando pra trás e gritei “Aaah! Socorro!” baixinho e os pés foram chegando mais próximos e quando se agachou, fechei os olhos tapando meu rosto com as mãos.

Ei, meu amor! O que houve? Sou eu, Lara! - Fui abrindo os dedos e pude ver Pedro agachado em minha frente, assustado com minha reação. Suspirei profundamente e o agarrei, dando um abraço tão forte que mal podia deixá-lo respirar. — O que houve, Lara? Você tá tremendo! - Ele disse, acariciando meu rosto. E agora, como explicaria pra ele? Ah amor, um homem estranho me olhou e bom, ele não fez nada sabe, mas pelo olhar achei que queria me matar. Não, nunca o vi na vida, mas...”, fala sério! Quem acreditaria nisso? No mínimo, me mandaria dormir alegando estar muito cansada e vendo “coisas”. Então pedi para não falarmos nisso e mesmo contra sua vontade, ele aceitou.

Enquanto almoçávamos, pude esquecer aquele homem de calça e blusa preta com uma jaqueta meio velha de couro. Pedro me levou de volta a agência e fui descansar na sala em que as modelos ficavam. Deitei e tentei mentalizar coisas boas. Coisas boas, coisas b...Barulho. Um barulho muito estranho! Levantei depressa e corri pra porta, girei a maçaneta e.. Fechada. Fe-cha-da! Respira, Lara. Respira! Resp..Aaahh!! — Alguém abre essa porta, pelo amor de Deus! - E então só vi uma mão na minha boca pressionando-a para que eu parasse de gritar. Arregalei meus olhos, atônita.
Xiiu.. Fica quieta! - Meu Deus, meu Deus! Era ele! Com aquela mesma jaqueta que cheirava a mofo, porém agora com óculos o que me impedia de ver seus olhos penetrantes e horríveis. Tentei manter a calma, mas era quase impossível. Ele foi tirando a mão da minha boca e palavras saltavam: O que você quer? Quem é você? O que faz aqui? Como entrou aqui?
Ei, ei, quietinha. Tá com medinho, Lara? - E deu uma risada maquiavélica. Céus, quem era ess.. Lara? Ele disse Lara?
Como sabe meu nome? Quem é você?? - E novamente riu, agora zombando.
Calada. Chega. Você só precisa saber de uma coisa: Não vai durar muito tempo. - E riu tirando os óculos, com aquele mesmo olhar horripilante daquela manhã. Poderiam passar séculos e eu ainda reconheceria esses olhos.

De repente, esse monstro tirou uma arma de dentro do bolso e ainda rindo, brincava Como seria se Lara.. Larita, a lindinha do “Pê”, é assim que você o chama né?, por acaso morresse? (Hahaha) – Ria sem parar. Ia tentando me arrastar o quanto conseguia pra trás, respirando ofegante, sem saber quem era aquele homem e o que ele queria. E como, como poderia conhecer tanto sobre mim?
Chegou a hora, coisa linda! - Esboçava um sorriso de satisfação enquanto apontava delicadamente sua arma para minha cabeça.

Sentia apenas lágrimas quentes rolando pelo meu rosto, fechei os olhos e desejei estar com Pê, ao menos uma última vez. Ouvi o barulho do gatilho, apertei as mãos contra o rosto e...

Bom dia, amor! - Abri os olhos rapidamente, girando-os para um lado e outro. Não enxergava jaqueta, nem agência e muito menos aqueles olhos. Via somente Pedro, nosso quarto e meu coração batendo tão rápido que mal conseguia respirar. E a graça de ter sido nada mais que um pesadelo. Terrível e demorado pesadelo.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

AQUELE OLHAR

Era dia. Um dia lindíssimo, por sinal. A luz do sol batia diretamente em meus olhos me fazendo acreditar que este seria um dia diferenciado. E como intuição feminina não falha – ou pelo menos a minha nunca havia falhado – aquela não foi só mais uma manhã cotidiana de sábado.

Fui caminhar cedo na praia como não fazia há tempos, sentir aquela brisa do mar me revigorava. O sol já estava por esquentar quando juntei minhas coisas e logo que saí da areia, ainda no calçadão, meus olhos encontraram olhos conhecidos.

Tremi por dentro, mas fingi normalidade. Limpava a areia dos pés enquanto pensava em como deveria agir ao levantar o rosto e dar de cara com ele ali. Justamente onde costumávamos nos encontrar. E quando o olhei, continuava a me olhar fixamente e foi inevitável, paralisei.

Oh Deus! Fazia tanto tempo e aqueles olhos ainda podiam dizer tanto a mim. Olhavam-me torturando fazendo imaginar como seria se caso ainda estivéssemos juntos. Frio, calor, tensão. Suava enquanto aqueles olhos penetravam os meus. Mas era tarde, tarde demais para pensar em uma história que tinha tudo pra dar certo, mas não deu. Logo avistei uma mulher com uma criança nos braços se aproximar e ele sorrir. Ao ver isso, voltei a solo terrestre e parei de vagar em recordações.

Olhei-o por uma última vez, me virei e jurei nunca mais pensar em nós com saudade. E assim prossegui minha vida, como vinha fazendo todo este tempo desde que partiu.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

AQUELA DORZINHA

Cá estou, mais pra lá que pra cá, entre sorrisos e lágrimas, sobrevivendo a cada dia. Hoje acordei com aquela dorzinha no coração, sabe? Essa aí mesmo que você tá pensando. Dorzinha que você costumava cuidar, e bom, ela era apenas uma dorzinha. Mas quando você se foi, se tornou um incômodo... Doía tanto que eu mal podia fingir um sorriso para aquela velhinha que dizia “bom dia minha filha” às 7h da manhã no ponto de ônibus.

Até parar de comer eu tinha parado, havia virado uma verdadeira caveira. E isso tudo por causa dessa dorzinha que insistia em permanecer e não passar jamais. Vivia zangada com a vida, mau humor era quase meu sobrenome. Já não saía com amigas e muito menos me dava ao luxo de conhecer pessoas novas. Meu ciclo sociável tinha se tornado eu, e... Eu.

Nem meu cachorro me aguentava mais. Era chegar em casa e ouvir o tilintar das chaves em minhas mãos que Bobby corria pra de baixo do sofá e só saía quando ia me deitar. Pois é, eu estava só.

Fui levando a vida assim até o dia em que resolvi sentar na minha cadeira que eu tanto gostava – e nem mais conhecia direito – de frente pro computador. Acessei o facebook e percebi que a vida continuava seguindo lá fora enquanto eu permanecia trancada aqui dentro. Tinham muitas notificações, mas as datas só condiziam há meses atrás. Ou seja, desistiram de tentar manter contato com alguém que havia se privado disso.

Minhas amigas fizeram novas amigas e se divertiam como costumávamos fazer toda sexta à noite depois do trabalho. E você... Bom, você prosseguiu com um sorriso no rosto. Poderia ter tido uma dorzinha também, mas pelo que percebi estava muito ocupado cuidando da dorzinha de outro alguém.

E eu? Eu me dei conta de que a vida não iria parar para que eu pudesse catar todos os pedacinhos que haviam se destroçado no chão depois de um término. Ainda que fosse de tanto tempo juntos. Me levantei daquela cadeira com um ânimo novo, era como renascer. Ver a vida tão bonita lá fora, esperando ter minha alegria de volta era como um pedido de recomeço. Um laço que eu só poderia fazer comigo mesma. Então resolvi tomar o melhor remédio que poderia sarar minha dor: A vida!

Hoje eu não deixo dorzinha alguma acabar com meu humor ou me fazer ficar em casa numa sexta à noite, a não ser que seja para uma festinha entre amigas. Bobby espera ansioso minha volta pra casa e quando chego é uma alegria sem fim. Mas o melhor de tudo foi entender que eu não posso colocar minha cura na mão de ninguém, eu saro por conta própria.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

CARTA DE UMA EX MELHOR AMIGA

Oi. Se lembra de mim? Eu costumava ser seu ombro amigo quando sua única alternativa era chorar; seus olhos quando insistia não enxergar o que estava bem à sua frente, e seus pés, quando não conseguia mais caminhar. Eu costumava ser chamada nas horas mais improváveis, quando seus pais brigavam no meio da noite ou quando batia aquela vontade de comer brigadeiro na sua tpm.

Eu costumava te ligar só pra contar que o Gil disse “e aí, novidades?” e nós gritávamos juntas, histéricas e felizes. Seus pais costumavam dizer que eu era como uma filha pra eles e nós costumávamos dizer que éramos apenas amigas porque nossos pais não nos aguentariam como irmãs.

E aí, tá começando a lembrar quem sou eu? Sim, essa aí mesmo. Quando saía, te carregava nem que fosse debaixo do braço, nas circunstâncias que fossem: seja num aniversário de um primo seu em que chovia parecendo cair o Céu, ou naquele chá de panela da amiga da minha mãe em que ficávamos rindo da cara daquelas senhorinhas que insistiam perguntar o porquê de rirmos tanto. Mal sabiam que eram delas mesmo.

Às vezes me pergunto o que nossa amizade significou pra você, pois quando a distância física chegou, logo deu abertura para que nosso laço se distanciasse também. Confesso que até hoje não entendo como aquela amizade que juramos – você lembra que juramos? – ser para sempre, foi se esvaindo com tanta rapidez. Ao ver fotos sua com outras amigas é inevitável aquela pontinha de ciúme. Ciúme por que esse cargo de melhor amiga era meu, sejam naquelas insuportáveis aulas de História Medieval ou naquelas festas em que éramos a companhia uma da outra. Quando diziam “lá vem às gêmeas siamesas” sabia que era pra nós, e hoje quando ouço algo assim, olho a minha volta e você não está lá.

Acredito que agora consiga lembrar quem é a remetente. Sei que deve estar se perguntando o porquê de eu lhe enviar essa carta mesmo depois de anos sem contato. Um dia desses vi duas menininhas brincando no parque e uma delas esticou o dedinho mindinho e disse “- Promete ser minha amiga pra sempre? Até quando ficarmos bem velhinhas?” e a outra sorriu, dizendo “Sim! Você vai ser a madrinha da minha filha, esqueceu?” retribuindo o dedinho. E as duas rolaram de rir. E eu chorei. Chorei porque um dia acreditei fielmente em cada promessa que fizemos uma a outra e as trago comigo até hoje, mesmo que pela metade.

Eu costumava ser isso tudo. Essa mistura de amiga, mãe, irmã e até professora naquela matéria que você não ia bem. Eu iria para aquele programa de índio que nunca iria só, desde que fosse pra te acompanhar. E ainda tirava bom proveito de tudo isso. A realidade é que eu costumava ser sua melhor amiga e hoje não passo de uma desconhecida.
Com saudade,
daquela que sempre te esperou voltar.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

NA CAMA, NO BANHO OU NA MESA DE JANTAR

 — Amoor, cheguei!! - Fui entrando e colocando as chaves em cima da mesa junto com minha bolsa, tirando os sapatos e sentando no sofá. Poder respirar depois de um longo dia de trabalho era tudo que eu precisava, mas saber que Léo já me esperava em casa era ainda melhor. Gritei outra vez estranhando o silêncio: Amor? Não vai vir me dar um beijo não, é? - Sem resposta, novamente.

Fui direto pro quarto e ouvindo o barulho da água cair pelo chuveiro, meti o rosto pela porta entreaberta e brinquei — Eii, sumiu? - Fui surpreendida com um abraço quente por detrás de mim fazendo meu coração saltar. Só ouvi aquela risada gostosa de garoto sapeca que eu sabia que encontraria toda noite e esperava que pelo resto de nossas vidas. Enquanto me virava pra ele podia ver aquele sorriso lindo que me fazia entender o porquê de ter escolhido ele, e não qualquer outro que tenha passado pelo meu caminho.

Ninguém entendia o porquê de ser plenamente feliz. Mas nunca titubeei ao dizer os motivos de ter um gigantesco sorriso no rosto logo pela manhã. Havia um trabalho do qual eu amava e alguém que sabia aflorar o melhor de mim. Alguém que antes mesmo de acordar assustada de um pesadelo, já teria me abraçado só por sentir minha tensão ainda dormindo.

Demorou hoje, minha linda! - Falava com aquele olhar de saudade enquanto tirava fios de cabelo do meu rosto e me beijava calorosamente. Sorria entre o beijo.

Sorria pelo beijo, sorria por quem me beijava e por ter a certeza de que ao final do meu dia com ou sem problemas, aquele beijo acompanhado de um olhar cheio de amor me esperaria em casa. Com ou sem roupa; na cama, no banho ou na mesa de jantar.


quarta-feira, 28 de agosto de 2013

O ADEUS QUE NÃO PUDE DAR

Não sabia o que era pior, a madrugada sendo cada dia mais fria sem você ou a sensação de que a qualquer momento ultrapassaria aquela porta de madeira gritando “Ei ei, cheguei cheguei” cheio daquela risada e bom humor que só você tinha.

Vivia, mas era apenas isso: um replay de dias inexplicavelmente iguais e quase insuportáveis. Não passavam de manhãs, tardes e noites em preto e branco. Everyday. Todos os dias. Acordar, trabalhar, comer – quando lembrava, voltar pra casa e me aninhar em outro lugar que não fosse onde passávamos nossas inesquecíveis noites. Às vezes dormia na sala, caída pelo sofá e outras no quarto de hóspedes. Isso quando dormia.

A verdade é que passar noites em claro já era quase que um costume nesses últimos meses. A culpa por ter partido era como uma pedra que batia forte dentro de mim sem pena alguma da dor que causava. Ô, e que dor!

Se houvesse me traído ou sido traída, saberia que a raiva presente ofuscaria qualquer dor; se tivesse escolhido me abandonar, um pequeno sentimento de esperança haveria dentro de mim. Mas simplesmente saber que se foi, partiu sem volta e sem ao menos ter como dar um último “adeus”, era algo que nem terapia nem tempo algum poderia me fazer superar.


Nunca esperamos pela partida de alguém tão próximo. Enterrar pessoas de idade é enterrar o passado, mas ter que enterrar alguém tão novo é enterrar um futuro repleto de vida. Vida que se foi, vida que não volta.

E junto com essa vida, foi-se a minha também.