quarta-feira, 12 de novembro de 2014

ALMA CIGANA

É verdade que eu o amo e não tenho dúvidas do amor do mesmo por mim, já demonstrou diversas vezes que eu não precisava ter insegurança quanto a isso. Mas também é bem verdade que ele é despojado com a vida, nunca foi de se prender em lugar algum e achei injusto mantê-lo aqui em terra firme, enquanto sua cabeça pairava no mar.

É certo que o Zé queria ficar aqui, ao meu lado, mas é certo também que eu já não o sentia tão perto assim há tempos. E não por me amar menos, apenas por amar o mar tanto quanto amava à mim. Eu não sou dessas que pede pra ficar ou implora por amor, acho que o amor quando é verdadeiro é dado livremente, vem pra libertar e não pra prender.

E o Zé... bom, o Zé já não era livre há muito tempo. Eu nunca precisei de muito pra fazê-lo feliz, ele é desses caras simples que se contentam com um amor tranquilo, uma água de coco e um pôr-do-sol visto de dentro de um barco em alto mar.

Outro dia conversando com ele cheguei a conclusão que sua alma era cigana, ele não nasceu pra plantar os pés sobre a terra e ficar durante muito tempo ali. Ele veio ao mundo pra fazer história com seus próprios pés.

E eu o deixei ir, com um sorriso no rosto e um beijo estalado na testa ele partiu, acompanhado de um "se cuida, meu rei" ele entendeu que meu coração é dele, mas o dele é do mundo inteiro. Eu entendi que amar é deixar ir. Nem sempre o que é bom pra você, será bom pro outro. Às vezes é preciso escolher e eu escolhi por ele, porque nada me dói mais que assistir de perto àqueles olhinhos cheios de sonhos enterrados na areia da vida.