Oi, sou eu. Sei que é tarde, mas eu vim. Sou eu...
Já escrevi tantas outras cartas, mais precisamente, 364. Uma pra cada dia do ano. Estão todas empacotadas num canto do meu quarto, não tive coragem de enviar uma se quer. Ao lado estão mais duas caixas, uma cheia de presentes que comprei pra lhe dar, cada um com significado diferente e todos me remetem você. E a outra, bom, a outra caixa é repleta de coisas nossas: Papéis de bombons com frases românticas, fotos nossas, entradas de cinema que fomos juntos - e os que fui sozinha, pensando em você. Ursinhos com seu perfume, presentes que me deu, bilhetes de "eu te amo" que você espalhava pela casa...
Desde que fomos cada um pra um lado, podia ainda te sentir aqui, como se fôssemos um. Como se nunca deixássemos de ser um.
Hoje, quando tomei coragem suficiente pra te escrever, era tarde demais. Tarde demais pra dizer "Volta pra mim, temos tanto pra viver". Tarde demais pra juntar todas essas cartas e presentes e bater na porta da sua casa, dizendo "É tudo pra você, é tudo de nós dois". Tarde pra dizer que nossa história nunca é tarde pra recomeçar.
Mas foi tarde. Tarde demais!
E sentada em nosso banco preferido daquela pracinha, me pergunto: E agora? O que faço com tudo isso? O que faço com aquelas caixas, com as cartas, com os presentes? O que faço com toda nossa história? O que eu faço?
E a única coisa em que consigo pensar é no quanto demorei pra tomar coragem. O quanto foi preciso pra que enfim levantasse daquela cadeira e deixasse o papel de lado.
E hoje você deixa de ser meu companheiro em terra, pra ser meu anjo no Céu. E assim, aqui no seu caixão, ponho a última carta que te escrevo. Eu vim como te prometi há anos atrás, agora você sabe, eu vim.
Me desculpe por ter sido tarde demais.