quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

A CAIXA

Peguei todo o nosso sentimento e transformei em algo palpável. Eu carregava todo o nosso amor naquela caixa. Eram momentos incrivelmente bons e outros dolorosamente ruins, mas eu jamais pensei em largá-la.

Ela era aquilo que tínhamos de mais valioso, todo o nosso puro sentimento carregado um pelo outro. Uma caixa imensa, às vezes pesava um pouco mais, às vezes pouco menos. Mas sempre pesava, afinal, havia tanto de nós ali dentro. Essa caixa era repleta de memórias, podia sentir a brisa de um dia frio na varanda ao seu lado.

A caixa começou a pesar mais que eu poderia aguentar, mas eu sempre aguentava. Eu fazia manobras para que ela pudesse ficar mais leve; sorria toda vez que o peso era ao ponto de chorar; carregava essa caixa com todo cuidado que eu pudesse ter.

Um dia, carregando minha caixa pra cima e pra baixo, já curvada, com olheiras de quem não dormia e cara de quem não comia, uma amiga perguntou: - Quê isso?
- Minha caixa.
- Que caixa, menina? Não tem nada aí.

E aí me dei conta: eu carregava um peso tão grande e sequer percebia que nada havia. Era em vão. Carreguei nossa caixa sozinha. E o que havia dentro era a enorme vontade daquilo que jamais existiu.

Chega.

Joguei tudo no primeiro lixo que encontrei. Nunca mais carrego um peso que não é meu.