Acordei
já pensando em como seria aquele dia terrível. Sou tão
desengonçada com tudo, conhecer a mãe do Paulinho não seria nada
fácil. Pensava em coisas legais pra dizer como “Ah,
que casa bonita!”
ou “Que
cabelo bonito o seu senh..”,
caramba! Como devo chamá-la? Senhora, dona Lucir ou só Lucir?
— Oi. Oi
amor!
-
Tentei mostrar empolgação.
— Oi
minha linda! E aí, tá tudo certo pra hoje?
— Ahh..
claro, amor!
- Ria nervosamente.
— Está
tudo bem mesmo, Rê? -
Ele perguntava preocupado.
— Sim,
sim. Pode vir me buscar em 10 minutos, já tô quase pronta. Beijos!
- e desliguei correndo antes que desconfiasse de mais alguma coisa.
Não dava mais pra adiar essa ida à casa da amada sogrinha.
Paulinho
veio me buscar, entrei no carro dei um beijo nele e liguei o som.
Tentei demonstrar o máximo de normalidade possível, acho que ele
acreditou depois do quinto “Tá
tudo ótimo, amor”.
Chegando
lá bati com joelho no portão da casa. Só conseguia pensar no
quanto aquilo doía e o quão lerda eu poderia ser. Entrei e fingi
sorrir feliz. Uma
moça com roupa de faxina abriu a porta e eu dei olá e sorri. Me
virei pro Paulinho e constatei:
–
Você
não disse que tinha uma moça que cuidava da casa.
- Ele fez uma cara de desentendido e deu um sorriso amarelo pra
faxineira e me respondeu: –
Não
temos, amor. Essa é minha mãe.
- Gelei. Comecei bem. Bem mal.
Se
a mãe dele tivesse me expulsado naquela hora teria entendido, porque
meu nervosismo foi tanto que fui andando pra trás vermelha de
vergonha e “Miiiiiiiiiaaaaaaau”,
pisei no gato da velha. Ai, caramba!
— Ai,
me desculpa senh..Dona Lucir. Me desculpa mesmo, não o vi ali.
- Se eu saísse mancando dali não me impressionaria, porque ela
me fuzilava com os olhos.
— ELA.
Não viu ELA ali.
- Dava ênfase mostrando
que era fêmea.
Paulinho
me puxou pra sala, perguntou se estava tudo bem e pediu que eu
ficasse sentada que nada mais poderia acontecer. Ele estava tenso,
não tanto quanto eu. Mas estava. Que dia desastroso! Só lembrava de
falar algo especial, como o cabelo. Mulher sempre gosta que elogie
seu cabelo. Ufa, ainda havia esperanças!
— Bonito
seu cabelo, dona Lucir. É que cor? Amora?
- Ela na mesma hora fechou a cara pra mim. O que eu poderia ter
falado de errado dessa vez?
— A
cabeleireira deixou cair a tinta errada no meu cabelo, Renata.
— Ah...
sinto muito. Mas... Combinou
com a senhora. Há
males que vem para o bem, né?
- Tentei melhorar fazendo
uma piadinha.
Paulinho
viu a ira da mãe em seus olhos e resolveu mudar o caminho da
conversa.
— Então
mãe, conta pra Rê
o que você gosta de fazer.
— Cozinhar.
Gosto
de cozinhar. Sabe
cozinhar, Renata?
— Brigadeiro
conta?
- Ria achando super engraçado e ela não retribuiu nem com um
sorriso de canto — Foi uma piada, dona Lucir.
— Não
teve graça. -
Nossa, que velha sem humor! Fuzilei o Paulinho enquanto lembrava dele
falando “Mamãe
é um doce, não se preocupe amor”.
Argh.
E
lá vem aquele gato novamente. Começa a dançar em volta das minhas
pernas, se roçando. Eu não tinha reação, nunca gostei de gato.
Meu negócio é cachorro.
— Não
vai fazer carinho nela, Renata? -
Olhei incrédula.
— Ah,
claro dona Lucir! Claro.
- Paulinho
que se prepare. Vou socá-lo.
— Vem
cá, gatinha. Gatin.. AH!
- A gata me deu um arranhão.
— Lurdinha,
quê isso filha? Não, Lurdinha.
- É sério que ela trata a gata desse jeito? Chega
por hoje.
— Então
é isso dona Lucir, tenho que ir.
— Mas
já? Nem comeu o bolo que preparei.
— Deixa
pra próxima. -
Só queria sair de lá enquanto
estava ralada,
mas
viva.
Quando
já estava por sair, ouvi-a
dizendo pro Paulinho: — Que
garotinha que
você foi arranjar hein Paulo Fernando..
Não
aguentei. Dei meia volta e fui até ela.
— Olha,
dona Lucir, pode ter certeza que hoje também não foi um dos meus
melhores dias. Perdoe qualquer transtorno. Só quero que saiba que
mesmo sendo desengonçada e não conseguindo
fazê-la rir nem
por um segundo,
quero
fazer
seu filho feliz pra
sempre.
E independente dos problemas de hoje, agradeço a Deus por
você.
Porque
sua vida gerou a minha, que é o Paulinho.
- Sorri, triste
por ter dado tudo errado,
porém
sabendo que havia tentado.
Na
semana seguinte dona Lucir me ligou chamando pra comer aquele pedaço
de bolo. Quando cheguei lá avistei
o portão antes dele me avistar. Lurdinha,
a gata, estava trancada no quarto e conversamos tranquilamente. Até
que a velhinha
é gente boa. E
ai de quem disser que não.
Recadinho:
Ao escrever esse conto, fiquei imaginando as diversas histórias que
vocês tem pra contar. Que tal escrever nos comentários abaixo como
foi conhecer a sogrona ou sogrão? Aguardo ansiosa, beijos!