Oi.
Se
lembra de
mim? Eu costumava ser seu ombro amigo quando sua única alternativa
era chorar; seus olhos quando insistia não enxergar o que estava bem
à sua frente, e seus pés, quando não conseguia mais caminhar. Eu
costumava ser chamada nas horas mais improváveis, quando seus pais
brigavam no meio da noite ou quando batia aquela vontade de comer
brigadeiro na sua tpm.
Eu
costumava te ligar só pra contar que o Gil disse “e
aí, novidades?”
e nós gritávamos juntas, histéricas e felizes. Seus pais
costumavam dizer que eu era como uma filha pra eles e nós
costumávamos dizer que éramos apenas amigas porque nossos pais não
nos
aguentariam
como irmãs.
E
aí, tá começando a lembrar quem sou eu? Sim, essa aí mesmo. Quando saía, te carregava nem que fosse debaixo do braço, nas
circunstâncias que fossem: seja num aniversário de um primo seu em
que chovia parecendo cair o Céu, ou naquele chá de panela da amiga da
minha mãe em que ficávamos rindo da cara daquelas senhorinhas que
insistiam perguntar o porquê de rirmos tanto. Mal sabiam que eram
delas mesmo.
Às
vezes me pergunto o que nossa amizade significou pra você, pois
quando a distância física chegou, logo deu abertura para que nosso
laço se distanciasse também. Confesso que até hoje não entendo
como aquela amizade que juramos – você
lembra que juramos?
– ser para sempre, foi se esvaindo com tanta rapidez. Ao ver fotos
sua com outras amigas é inevitável aquela pontinha de ciúme.
Ciúme por que esse cargo de melhor amiga era meu, sejam naquelas
insuportáveis aulas de História Medieval ou naquelas festas em que
éramos a companhia uma da outra. Quando diziam “lá
vem às gêmeas siamesas”
sabia que era pra nós, e hoje quando ouço algo assim, olho a
minha volta e você não está lá.
Acredito
que agora consiga lembrar quem é a remetente. Sei que deve estar se
perguntando o porquê de eu lhe enviar essa carta mesmo depois de
anos sem contato. Um dia desses vi duas menininhas brincando
no parque e uma delas esticou o dedinho mindinho e disse “-
Promete ser minha amiga pra sempre? Até quando ficarmos bem
velhinhas?”
e a
outra sorriu, dizendo “Sim!
Você vai ser a madrinha da minha filha, esqueceu?”
retribuindo
o dedinho.
E
as duas rolaram de rir. E eu chorei. Chorei porque um dia acreditei
fielmente em cada promessa que fizemos uma a outra e as trago comigo
até hoje, mesmo que pela metade.
Eu
costumava ser isso tudo. Essa mistura de amiga, mãe, irmã e
até professora naquela matéria que você não ia bem. Eu iria para
aquele programa de índio que nunca iria só, desde que fosse pra te
acompanhar. E ainda tirava bom proveito de tudo isso. A
realidade é que eu
costumava ser sua melhor amiga e
hoje
não passo de uma desconhecida.
Com
saudade,
daquela
que sempre te esperou voltar.