sexta-feira, 30 de agosto de 2013

CARTA DE UMA EX MELHOR AMIGA

Oi. Se lembra de mim? Eu costumava ser seu ombro amigo quando sua única alternativa era chorar; seus olhos quando insistia não enxergar o que estava bem à sua frente, e seus pés, quando não conseguia mais caminhar. Eu costumava ser chamada nas horas mais improváveis, quando seus pais brigavam no meio da noite ou quando batia aquela vontade de comer brigadeiro na sua tpm.

Eu costumava te ligar só pra contar que o Gil disse “e aí, novidades?” e nós gritávamos juntas, histéricas e felizes. Seus pais costumavam dizer que eu era como uma filha pra eles e nós costumávamos dizer que éramos apenas amigas porque nossos pais não nos aguentariam como irmãs.

E aí, tá começando a lembrar quem sou eu? Sim, essa aí mesmo. Quando saía, te carregava nem que fosse debaixo do braço, nas circunstâncias que fossem: seja num aniversário de um primo seu em que chovia parecendo cair o Céu, ou naquele chá de panela da amiga da minha mãe em que ficávamos rindo da cara daquelas senhorinhas que insistiam perguntar o porquê de rirmos tanto. Mal sabiam que eram delas mesmo.

Às vezes me pergunto o que nossa amizade significou pra você, pois quando a distância física chegou, logo deu abertura para que nosso laço se distanciasse também. Confesso que até hoje não entendo como aquela amizade que juramos – você lembra que juramos? – ser para sempre, foi se esvaindo com tanta rapidez. Ao ver fotos sua com outras amigas é inevitável aquela pontinha de ciúme. Ciúme por que esse cargo de melhor amiga era meu, sejam naquelas insuportáveis aulas de História Medieval ou naquelas festas em que éramos a companhia uma da outra. Quando diziam “lá vem às gêmeas siamesas” sabia que era pra nós, e hoje quando ouço algo assim, olho a minha volta e você não está lá.

Acredito que agora consiga lembrar quem é a remetente. Sei que deve estar se perguntando o porquê de eu lhe enviar essa carta mesmo depois de anos sem contato. Um dia desses vi duas menininhas brincando no parque e uma delas esticou o dedinho mindinho e disse “- Promete ser minha amiga pra sempre? Até quando ficarmos bem velhinhas?” e a outra sorriu, dizendo “Sim! Você vai ser a madrinha da minha filha, esqueceu?” retribuindo o dedinho. E as duas rolaram de rir. E eu chorei. Chorei porque um dia acreditei fielmente em cada promessa que fizemos uma a outra e as trago comigo até hoje, mesmo que pela metade.

Eu costumava ser isso tudo. Essa mistura de amiga, mãe, irmã e até professora naquela matéria que você não ia bem. Eu iria para aquele programa de índio que nunca iria só, desde que fosse pra te acompanhar. E ainda tirava bom proveito de tudo isso. A realidade é que eu costumava ser sua melhor amiga e hoje não passo de uma desconhecida.
Com saudade,
daquela que sempre te esperou voltar.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

NA CAMA, NO BANHO OU NA MESA DE JANTAR

 — Amoor, cheguei!! - Fui entrando e colocando as chaves em cima da mesa junto com minha bolsa, tirando os sapatos e sentando no sofá. Poder respirar depois de um longo dia de trabalho era tudo que eu precisava, mas saber que Léo já me esperava em casa era ainda melhor. Gritei outra vez estranhando o silêncio: Amor? Não vai vir me dar um beijo não, é? - Sem resposta, novamente.

Fui direto pro quarto e ouvindo o barulho da água cair pelo chuveiro, meti o rosto pela porta entreaberta e brinquei — Eii, sumiu? - Fui surpreendida com um abraço quente por detrás de mim fazendo meu coração saltar. Só ouvi aquela risada gostosa de garoto sapeca que eu sabia que encontraria toda noite e esperava que pelo resto de nossas vidas. Enquanto me virava pra ele podia ver aquele sorriso lindo que me fazia entender o porquê de ter escolhido ele, e não qualquer outro que tenha passado pelo meu caminho.

Ninguém entendia o porquê de ser plenamente feliz. Mas nunca titubeei ao dizer os motivos de ter um gigantesco sorriso no rosto logo pela manhã. Havia um trabalho do qual eu amava e alguém que sabia aflorar o melhor de mim. Alguém que antes mesmo de acordar assustada de um pesadelo, já teria me abraçado só por sentir minha tensão ainda dormindo.

Demorou hoje, minha linda! - Falava com aquele olhar de saudade enquanto tirava fios de cabelo do meu rosto e me beijava calorosamente. Sorria entre o beijo.

Sorria pelo beijo, sorria por quem me beijava e por ter a certeza de que ao final do meu dia com ou sem problemas, aquele beijo acompanhado de um olhar cheio de amor me esperaria em casa. Com ou sem roupa; na cama, no banho ou na mesa de jantar.


quarta-feira, 28 de agosto de 2013

O ADEUS QUE NÃO PUDE DAR

Não sabia o que era pior, a madrugada sendo cada dia mais fria sem você ou a sensação de que a qualquer momento ultrapassaria aquela porta de madeira gritando “Ei ei, cheguei cheguei” cheio daquela risada e bom humor que só você tinha.

Vivia, mas era apenas isso: um replay de dias inexplicavelmente iguais e quase insuportáveis. Não passavam de manhãs, tardes e noites em preto e branco. Everyday. Todos os dias. Acordar, trabalhar, comer – quando lembrava, voltar pra casa e me aninhar em outro lugar que não fosse onde passávamos nossas inesquecíveis noites. Às vezes dormia na sala, caída pelo sofá e outras no quarto de hóspedes. Isso quando dormia.

A verdade é que passar noites em claro já era quase que um costume nesses últimos meses. A culpa por ter partido era como uma pedra que batia forte dentro de mim sem pena alguma da dor que causava. Ô, e que dor!

Se houvesse me traído ou sido traída, saberia que a raiva presente ofuscaria qualquer dor; se tivesse escolhido me abandonar, um pequeno sentimento de esperança haveria dentro de mim. Mas simplesmente saber que se foi, partiu sem volta e sem ao menos ter como dar um último “adeus”, era algo que nem terapia nem tempo algum poderia me fazer superar.


Nunca esperamos pela partida de alguém tão próximo. Enterrar pessoas de idade é enterrar o passado, mas ter que enterrar alguém tão novo é enterrar um futuro repleto de vida. Vida que se foi, vida que não volta.

E junto com essa vida, foi-se a minha também.