sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

CARTA DO PASSADO PARA O FUTURO II

Já deixo claro de antemão que não queria ter que escrever essa carta... não essa. Não pra outra pessoa que não fosse eu mesma.

Não sei como é o relacionamento de vocês, mas o nosso foi desses deliciosos. Muito conturbado, mas repleto de histórias hilárias e gargalhadas estrondosas. E muito, muito amor.

Cê já abriu o armário dele? Eu sei, só tem preto. E não é que ele fica lindo? Mas confesso que ainda prefiro ele de cinza, umas três camisas apenas que existem no meio dessa multidão dark (risos). Fica tranquila, você vai se acostumar ao fato dele não usar cuecas. Shorts serão o máximo de pano que você vai ver nele.

Essa carta é tão incrivelmente diferente da "Carta do passado pro futuro I" que dá vontade de rir só em lê-la. Ele é totalmente o contrário do meu primeiro namorado, a nossa preguiça se encaixava quase que perfeitamente. Nossos fins de semana e dias de folga se resumiam a Netflix na cama e comer besteiras. Nuggets! Nossa, como comíamos isso. E hambúrgueres, salgadinhos e japa. E bom, quanto ao Netflix, confesso que resumia-se apenas a "how i met your mother". Tentamos - juro que tentamos - começar séries novas juntos, assistir diferentes filmes e documentários, mas sempre acabávamos em HIMYM. Sempre. Always.

Ele é muito pé no chão. Muito fechado também. Se ele abrir o coração dele com você, dê atenção. Isso não acontecerá com frequência, mas se acontecer, acredite, você é realmente valiosa. Se ele te incluir em seus sonhos, mete o pé no acelerador e vai. Juntos pensávamos em data do casamento, pois tínhamos certeza de que aconteceria. Os nomes dos filhos escolhemos, e eu duvido que use os mesmos com você. Perdoe a sinceridade, é que era uma coisa muito nossa.

A nossa história é aquele potinho onde você guarda os melhores segredos e morre de ciúmes de mostrar ao mundo, sabe? Quando oficializamos nosso relacionamento para as pessoas, assistíamos juntos as diversas reações de choque em rede social. E ríamos de gargalhar, deitados, pensando no quão louco devia ser para essas pessoas que conheciam - mesmo que pouquíssimo - ambos. Tão diferentes, eles deviam pensar. Tão iguais, nós havíamos descoberto.

Eu e ele éramos café com leite. Eu, agito. Ele, calmaria. Me via fazendo diversas coisas ao mesmo tempo, falando três diferentes assuntos, explicando histórias de pessoas que nem ele mesmo conhecia e ele ali, com aqueles olhos miúdos e um sorriso de canto de boca, me ouvindo atentamente com aquele ar de paciência que só ele tem. No fim das contas eu parava tudo e falava: "ai, tô falando demais, né? Vou parar". E ele ria: "Não, não, fala. Eu tô ouvindo. E gostando", e a gente se beijava. E se amava. E ficava ali, no nosso cantinho, repetindo inúmeras vezes um para o outro: "Quem diria?" - e rindo logo após.

Ah... Esse homem... Ele me virou de ponta a cabeça. Quando começamos tudo, a última coisa que eu queria era alguém, mas ele era cheio de um mistério que eu tinha quase necessidade em desvendar. E nossos gostos, gestos e falas se sintonizavam a cada segundo. Eu quis me prender àquela história. Quis que nossas vidas se interligassem.

Ele dizia que eu mexi com a cabeça dele desde o início, que enfrentava ele de forma que alguém jamais fez e isso deixava ele maluco. Confesso que eu amava isso. Eu via a forma que as pessoas o tratavam e ria desacreditada, ele batia o pé que não, mas todos pisavam em ovos com o mesmo. E comigo ele era tão ele, totalmente desarmado, sem medo de expor opiniões ou sentimentos. Ouvi algumas vezes a frase "nunca contei isso pra ninguém..." da boca dele. E que delícia! Que bom saber que fui importante como ele foi.
Quis tanto que não virássemos passado no presente um do outro, mas as circunstâncias nos fizeram assim. Cada um para um caminho diferente... E como doeu, ainda dói, mas a verdade é que toda noite eu peço pra Deus continuar guardando ele, já que eu não posso mais fazer isso. E bom, agora ele tem você.

Eu sei que o que tivemos jamais teremos com mais ninguém. Sabe aquele único grande amor na vida? Então. Mas a gente se acostuma a viver sem, né? A gente dá lugar a trabalhos, séries, saídas. A gente dá um jeito. A gente tenta. Mas eu sei que no fundo, quando a gente se deita, ainda lembra de como cabíamos perfeitamente enlaçados numa pequena cama de solteiro. E como jamais encontraremos isso em outros corpos. Mas a gente tenta.
A gente tenta.

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