acendi um fósforo
o álcool já estava lá por si só
começou com uma faísca
como quem não daria em nada
e do nada
labaredas
tão enormes que sequer conseguia enxergar
o que era eu
e o que era
ela
eu via as chamas
que se enlaçavam num monte de coisa que ali estava
as cortinas pegaram fogo primeiro
os livros aos poucos deixavam de ter
tornavam-se ser
eram só memória
memórias essas que a gente nem queria mais
eram parte do que havíamos sido
mas não de quem somos
o fogo que antes estava na sala
agora tomava conta dos quartos
rasteiro
e crescia
CRÊscia
crescIA
tomando conta de tudo
aos poucos o banheiro
antes tão frio
agora era só quentura
a água já não era capaz de apagar
não havia água suficiente
pra sanar tamanho
fogaréu
a sala
os quartos
o banheiro
a cozinha
até a escrivaninha
tudo
tudo pegou fogo
era ardência
fervor
brasa
chama
lume
é ela
o álcool
e eu
o fósforo
que delícia
de fogo
fecho os olhos juntando meu dedo no dela
naqueles pedidos bobos mas cheios de vontade
pedindo a seja lá quem for
que esse fogo
nunca
se apague.
3 de setembro de 2019.
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